O Globo
WASHINGTON — Falando em público pela primeira vez desde a invasão do Capitólio, no último dia 6, o presidente Donald Trump negou qualquer responsabilidade pelo episódio e disse que o processo de impeachment iniciado pela Câmara está causando uma “tremenda raiva” em seus apoiadores. O tom inflamado do presidente acirra ainda mais as preocupações com a segurança nos próximos dias, diante dos temores de que atos armados marcados por grupos pró-Trump terminem em violência.
— O impeachment é, na verdade, uma continuação da maior caça às bruxas da história da política — disse ele, pouco antes de embarcar em uma viagem para Alamo, cidade texana na fronteira com o México. — É ridículo. É absolutamente ridículo. Esse impeachment está causando uma raiva tremenda e são vocês [seus opositores] que estão fazendo isso.
Trump não saia da Casa Branca desde que seus apoiadores invadiram o Capitólio, deixando cinco mortos. Horas antes da turba adentrar o prédio, o presidente havia feito um discurso para seus apoiadores, convocando-os a marchar até a a sede do Congresso e interromper a sessão plenária que confirmaria a vitória de Joe Biden, a última etapa antes da transferência de poder, no dia 20. O presidente chegou a dizer, inclusive, que os acompanharia.
A repórteres nesta segunda, ele insistiu que sua fala foi “totalmente apropriada”, esquivando-se da culpa que lhe é quase universalmente atribuída. O comportamento lhe rendeu não só um segundo processo de impeachment, como também uma investigação do Departamento de Justiça: se for constatado que Trump agiu para incitar a invasão, o promotor responsável já indicou que o presidente pode ser alvo de acusações criminais.
O “problema real”, ele disse, não foi a violência causada por seus apoiadores, majoritariamente brancos, mas os atos antirracismo que tomaram o país no meio do ano passado. As acusações falsas de fraude que sustenta desde a eleição, por sua vez, também são concentradas em distritos de estados-pêndulo com grandes populações negras.
Estas são as primeiras declarações do presidente desde o último dia 8, quando foi banido do Twitter e do Facebook por incitar a violência — em um vídeo, chegou a dizer que “amava” os invasores do Capitólio e que eles eram “muito especiais”. Comentando o veto, que o deixou sem seu principal megafone, o presidente afirmou que as empresas do Vale do Silício cometeram “um erro catastrófico” e estão “dividindo o país”.
As gigantes da tecnologia não só vetaram o presidente, mas impõem também uma série de restrições sobre discursos que propagam a violência, após terem sido usadas para orquestrar a invasão do Capitólio. Grupos pró-Trump, no entanto, se espalham por plataformas menos populares e encriptadas, de onde convocam novos atos armados para tentar atrapalhar a posse de Biden. O FBI emitiu um boletim indicando risco de violência nos 50 estados americanos e no Distrito de Columbia.